domingo, 25 de julho de 2010

O sábado foi feito para o homem

"Então lhes disse: O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado." (Marcos, 2: 27).

Muito tenho visto, seja em sites de estudos bíblicos ou em sites de cristãos leigos, afirmarem, categoricamente, que o sábado foi feito para os judeus e que, portanto, não é necessário ser observado por nós, "gentios". Outro argumento que se usa é que estamos sob o tempo da graça e sob a nova aliança e que, assim, não estamos mais debaixo da lei, não sendo necessário, consequentemente, observar o sábado como dia de guarda.

São, esses, argumentos verdadeiros ou falaciosos? Para responder a essa pergunta, devemos, antes de tudo, deixar os pré-conceitos de lado, nos vestir com as vestes da humildade e recorrer à única pessoa que pode dirimir essa dúvida: Deus e a Sua Santa Palavra, a Bíblia Sagrada.

Primeiramente, precisamos entender o que é o sábado. A palavra sábado vem do hebraico shabat (שבת ) que siginifica "descanso" e está relacionada "com o verbo shavāt, que significa "cessar", "parar". Apesar de ser vista quase universalmente como "descanso" ou um "período de descanso", uma tradução mais literal seria "cessação", com a implicação de "parar o trabalho" (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Shabat).

O sábado tem a sua origem, segundo o relato bíblico, na criação da terra: "Assim os céus, a terra e todo o seu exército foram acabados. Havendo Deus acabado no sétimo dia a obra que fizera, descansou nesse dia de toda a obra que tinha feito. E abençoou Deus o sétimo dia, e o santificou, porque nele descansou de toda a obra de criação que fizera." (Gênesis, 2: 1-3). Notamos, portanto, já nesse primeiro relato acerca do sábado, que ele foi instituído por Deus (descansou, abençoou e santificou) em um momento da história (o sétimo dia) quando já existia o ser humano (o mesmo fora criado no sexto dia) e ainda não havia povo judeu ou povo de Israel.

Mas porque Deus descansou? Se acreditamos que Deus é onipotente, e de fato o é, não haveria necessidade de Deus descansar. Mas, além de onipotente, Deus é misericordioso e amoroso; preocupa-se com o bem estar de Suas criaturas, por isso Ele nos deixa o exemplo ao descansar, ao final de Sua obra criadora, esperando que nós façamos o mesmo - imaginemos que não tivéssemos um dia ao menos para descanso em meio à confusão e turbulência da vida moderna, o que seria da nossa saúde física, mental e espiritual? Além disso, ao abençoar o sétimo dia, Ele o tornou um canal de bençãos para os seus filhos e ao santificá-lo, Ele o separou para uso sagrado.¹

É importante ressaltar, ainda, que o sábado não é meramente um dia de "cessação", existe um sentido muito mais amplo por trás da observância desse dia. A própria Bíblia afirma que o sábado é o dia do Senhor - por mais que tentem provar que o dia do Senhor é o domingo, as Sagradas Escrituras afirmam, categoricamente, que esse dia é o sábado; vejamos, nas palavras do próprio criador, Jesus Cristo: "Pois o Filho do homem é senhor do sábado." (Mateus, 12: 8); "Portanto, o Filho do homem até do sábado é senhor." (Marcos, 2: 28); "Então Jesus lhes disse: O Filho do homem é senhor até do sábado." (Lucas, 6: 5). Assim sendo, ao observarmos esse dia conforme Deus nos pede, estamos mostrando ao mundo que servimos ao Deus verdadeiro, ao Deus criador - aí está o grande sentido do sábado, testemunhar ao mundo que há no céu um Deus criador, um Deus mantenedor e um Deus salvador: "Santificai os meus sábados, e servirão de sinal entre mim e vós, para que saibais que Eu sou o Senhor vosso Deus." (Ezequiel, 20: 20); nessas palavras, por intermédio do profeta Ezequiel, Deus nos mostra que o sábado é um sinal e um testemunho daqueles que servem e que pertencem a Deus - somente os judeus são servos do Altíssimo ou nós também o somos?

O sábado é sinal também de santificação. A caminhada cristã é uma caminhada em busca da verdadeira e plena santificação, que nada mais é que nos separarmos das coisas do mundo e vivermos uma vida reta e justa diante de Deus (ver I João 2: 15-17); de fato, não temos poder em nós mesmos para isso; necessitamos da obra de Deus em nossos corações e foi por isso que Jesus orou ao Pai: "Eles não são do mundo, como Eu do mundo não sou. Santifica-os na verdade, a Tua palavra é a verdade." (João, 17: 16 e 17). Nesses termos, o sábado surge, também, como um sinal da nossa santificação e do processo de transformação e redenção de Deus em nós: "Também lhes dei os meus sábados, para que servissem de sinal entre mim e eles; para que soubessem que Eu Sou o Senhor que os santifica." (Ezequiel, 20: 12). Mais uma vez pergunto: somente os judeus devem buscar o caminho da santificação ou todos nós, seguindo a ordem de Cristo, também devemos buscar a santificação?

Uma prova, irrefutável, de que Deus separou o sábado para toda a humanidade e o colocou como sinal de sua aliança com o ser humano e não somente com o judeu, está descrito no capítulo 56 de Isaías, que agora transcrevemos aqui para que você, meu sincero amigo e minha sincera amiga, possa ler e refletir se a observância do sábado foi determinada somente para os judeus:

"Assim diz o SENHOR: Mantende o juízo e fazei justiça, porque a minha salvação está prestes a vir, e a minha justiça, prestes a manifestar-se. Bem-aventurado o homem que faz isto, e o filho do homem que nisto se firma, que se guarda de profanar o sábado e guarda a sua mão de cometer algum mal. Não fale o estrangeiro que se houver chegado ao SENHOR, dizendo: O SENHOR, com efeito, me separará do seu povo; nem tampouco diga o eunuco: Eis que eu sou uma árvore seca. Porque assim diz o SENHOR: Aos eunucos que guardam os meus sábados, escolhem aquilo que me agrada e abraçam a minha aliança, darei na minha casa e dentro dos meus muros, um memorial e um nome melhor do que filhos e filhas; um nome eterno darei a cada um deles, que nunca se apagará. Aos estrangeiros que se chegam ao SENHOR, para o servirem e para amarem o nome do SENHOR, sendo deste modo servos seus, sim, todos os que guardam o sábado, não o profanando, e abraçam a minha aliança, também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos. Assim diz o SENHOR Deus, que congrega os dispersos de Israel: Ainda congregarei outros aos que já se acham reunidos." (Isaías, 56: 1-8).

É fácil notar e aceitar, basta sinceridade no coração, de que o sábado é para todos, para os judeus, para o estrangeiro (gentio) e para os eunucos; os que guardam o sábado e não o profanam fazem aquilo que é agradável a Deus. Vejamos mais um trecho do profeta Isaías, agora no capítulo 58: "Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus próprios interesses no meu santo dia; se chamares ao sábado deleitoso e santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, não pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs, então, te deleitarás no SENHOR. Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do SENHOR o disse." (Isaías, 58: 13 e 14). Você pode até questionar: mas não temos por pai a Jacó; esse era pai do povo judeu?! De fato, se pensarmos do ponto de vista físico, do ponto de vista humano. Mas notemos as palavras do apóstolo Paulo na carta aos gálatas: "Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado por justiça, sabe, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão." (Gálatas, 3: 6 e 7); segundo Paulo, espiritualmente, somos filhos de Abraão e, consequentemente, temos por "pai" a Isaque e a Jacó (Israel) e a promessa de Deus a todos que honrarem Seu santo dia é que Ele nos sustentará com a herança de Jacó, nosso pai espiritual e derramará bençãos sem medida sobre nossas cabeças.

Quanto ao argumento de que agora vivemos sob o tempo da graça e não debaixo da lei e que, portanto, estamos desobrigados a guardar o sábado, podemos concluir, também, que isso é uma falácia. Os mandamentos de Deus - única parte da Escritura escrita pelo próprio Deus - são a norma e o fundamento do Seu governo e do Seu caráter. Não podemos imaginar um reino ou uma nação ou mesmo uma pequena coletividade que não tenha uma lei a ser seguida.

Deus sempre exerceu a sua graça para com o ser humano, mesmo em relação às personagens do antigo testamento, pois, mesmo naquela época, as obras não poderiam salvar ninguém, mas somente a fé e o patriarca Abraão é um bom exemplo disso, veja o que o apóstolo Paulo diz: "Que diremos, pois, ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Se, de fato, Abraão foi justificado pelas obras, tem de que se gloriar, mas não diante de Deus. O qeu diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça." (Romanos, 4: 1-3). Note bem, foi pela fé que Abraão foi justificado e não pelas obras, o que quer dizer que ao tempo do velho patriarca Deus já concedia a Sua graça e a Sua misericórdia aos homens. O tempo da graça existe desde que Adão e Eva caíram em pecado e Deus fez a promessa de redenção, por meio de Cristo Jesus (ver Gênesis, 3: 14 e 15), reiterando essa promessa a Abraão (ver Gênesis, 12: 3  e Gênesis, 22: 18).

Por isso, devemos refutar o argumento de que estamos sob a graça de Deus e não mais precisamos obedecer Seus mandamentos. Se assim fora, também, poderíamos matar, roubar ou adulterar? Quando Deus estava prestes a entregar as tábuas com os mandamentos, escritos pelo Seu próprio dedo, Deus deu uma ênfase toda especial no quarto mandamento, que diz respeito ao sábado, vejamos: "Disse mais o SENHOR a Moisés: Tu, pois, falarás aos filhos de Israel e lhes dirás: Certamente, guardareis os meus sábados; pois é sinal entre mim e vós nas vossas gerações; para que saibais que eu sou o SENHOR, que vos santifica. Portanto, guardareis o sábado, porque é santo para vós outros; aquele que o profanar morrerá; pois qualquer que nele fizer alguma obra será eliminado do meio do seu povo. Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao SENHOR; qualquer que no dia do sábado fizer alguma obra morrerá. Pelo que os filhos de Israel guardarão o sábado, celebrando-o por aliança perpétua nas suas gerações. Entre mim e os filhos de Israel é sinal para sempre; porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, e, ao sétimo dia, descansou, e tomou alento. E, tendo acabado de falar com ele no monte Sinai, deu a Moisés as duas tábuas do Testemunho, tábuas de pedra, escritas pelo dedo de Deus." (Êxodo, 31: 12-18).

Jesus, com toda a Sua autoridade, afirmou que não veio para abrogar ou anular a Santa Lei de Deus, mas veio confirmar, veio cumprir e, enquanto, tudo não se cumprir a Lei estará em vigor e com ela o quarto mandamento que é o santo sábado e que aquele que ensinar algo diferente disso será considerado o menor no reino de Deus (ver Mateus, 5: 17-19). E, além disso, a nova alinça, selada pelo sangue de Cristo, previa também a impressão de Sua Lei em nossas mentes e em nossos corações: "Esta é a aliança que depois daqueles dias farei com a casa de Israel, diz o Senhor. Porei as minhas leis no seu entendimento, e em seu coração as escreverei." (Hebreus, 8: 10).

Paulo, inspiradamente, nos mostra que a fé jamais anula a lei e que, ao contrário, nos leva à observância da lei de Deus: "Se Deus é um só, que justifica pela fé a circuncisão, e por meio da fé a incircuncisão, anulamos, pois, a lei pela fé? De maneira nenhuma! Antes confirmamos a lei." (Romanos, 3: 30-31). Paulo foi o maior defensor da justificação pela fé; e ele estava coberto de razão. Ninguém se salva por obras, por guardar mandamento e por observar o sábado; mas conforme ele mesmo disse, a nossa fé é manifestada pela obediência aos ditames divinos, ou então ele não afirmaria ainda: "Que diremos, pois? Havemos de pecar por não estarmos debaixo da lei, mas debaixo da graça? De modo nenhum. Portanto, a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom." (Romanos 6: 1 e 7: 12). Não aprofundaremos aqui a discussão acerca do pecado, mas é importante registrar que o apóstolo João afirma que pecado é a transgressão da lei e se lembrarmos que o quarto mandamento (Lembra-te do dia de sábado para o santificar....) faz parte dessa mesma lei, se não o observármos, estaremos transgredindo a lei divina e, consequentemente, caindo em pecado (ver I João, 3: 4).

Portanto caros amigos e caras amigas, a Bíblia nos alerta a não darmos ouvidos a qualquer vento de doutrina; a Palavra de Deus é clara e suficiente para salvar a todos aqueles que a ela se achegarem; "Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração." (Hebreus, 4: 12). Se o seu propósito é servir e adorar a Deus, guarde os Seus mandamentos e honre o Seu santo sábado e todos saberão que é Ele que o santifica e que Ele é o Seu Deus.

"Então o dragão (Satanás) irou-se contra a mulher (igreja), e foi fazer guerra aos demais filhos dela (fiéis), os que guardam os mandamentos de Deus, e mantém o testemunho de Jesus." (Apocalipse, 12: 17).

1 - Alberto R. Timm, O Sábado na Bíblia - Por que Deus faz questão de um dia. Casa Publicadora Brasileira, Série Perspectiva, 2010, p. 25.