quinta-feira, 29 de junho de 2023

A Oração de Maria

"Mas o anjo lhe disse: Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Respondeu Maria: 'Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra'." (Lucas, 1: 30 e 38)

A Bíblia é riquíssima em personagens e os apresenta da maneira mais imparcial possível, mostrando seus defeitos e sua virtudes, seus desvios de caráter, seus traços psicológicos, suas aventuras e desventuras. 

Normalmente, quando se fala de personagens bíblicos vêem à nossa mente figuras masculinas, como Moisés, Davi, Salomão, Paulo, entre outros. 

Porém, as mulheres têm histórias maravilhosas relatadas no Livro Sagrado. Podemos lembrar de Raabe, a prostituta que abrigou os espias do povo de Israel, na cidade de Jericó e, diferentemente do que muitos pensam, de que a Palavra de Deus é preconceituosa e machista, essa mulher é ascendente de Cristo, tataravó do rei Davi. Outra figura proeminente na Bíblia e que é da ascendência de Cristo, sendo nora de Raabe, é Rute; exemplo de fidelidade, dedicação e dignidade. ("Salmom gerou Boaz, cuja mãe foi Raabe; Boaz gerou Obede, cuja mãe foi Rute; Obede gerou Jessé; e Jessé gerou o rei Davi." Mateus, 1: 5 e 6 - veja essas histórias maravilhosas nos livros de Josué e de Rute).  Temos ainda Ester que, sendo rainha, esposa do rei Xerxes, da Pérsia, intercedeu pelo povo judeu, então cativo, e o salvou da destruição. Afora os papéis secundários em outras tantas histórias: Noemi, Bate-Seba, Débora, Maria Madalena, entre outras.

No entanto, nenhuma mulher - quiçá personagem bíblico - se compara, em importância e relevância para o cristianismo como Maria, a mãe de Jesus Cristo. Desse modo, convido-o a meditar um pouco nessa figura extraordinária e no porquê da sua escolha para ser a mãe do Salvador.

Era chegado o tempo de o Messias vir a este planeta, especificamente entre o povo judeu, para redimir o ser humano de seus pecados. Porém, Ele deveria vir como um frágil bebê e passar por todas as fases que um homem passa até chegar a ser adulto e se sacrificar por nós. ("Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou Seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos." Gálatas, 4: 4). Dessa maneira, aquela criança especial, precisaria de educação especial, notadamente no que diz respeito à sua formação espiritual; com toda certeza Ele não poderia ser educado da mesma maneira que as outras crianças o eram; e o Pai viu naquela jovem as características necessárias para tal. Não podemos afirmar categoricamente quais seriam essas características, mas podemos, ao menos, imaginar pelos relatos bíblicos. 

A primeira que chama a atenção é a humildade. Maria era uma serva fiel ao Deus altíssimo e assim se reconhecia. Não podemos esquecer que Jesus é comparado a uma humilde ovelha que caminha ao matadouro sem emitir sequer uma queixa; Jesus se humilhou ao ponto de, sendo divino, assumir a forma humana para salvar a raça caída. Como homem, Ele necessitaria aprender lições de humildade neste planeta  - planeta marcado pela violência e arrogância dos homens - Maria seria a mãe ideal para ensinar tais lições ao jovem Jesus. 

Maria, como disse acima, era fiel e fidelidade genuína a Deus, já naquele tempo, era algo difícil de se encontrar. E, por essa fidelidade, o anjo Gabriel pôde fazer a afirmação: "Salve agraciada! O Senhor é contigo. Bendita és tu entre as mulheres." (Mateus, 1: 28). Não é coisa pequena ser chamada de agraciada e ainda ouvir o anjo dizer que ela havia achado graça diante de Deus e bendita porque escolhida para um propóstito divino. Poucos personagens bíblicos tiveram a oportunidade de ouvir um elogio de Deus, seja da Sua própria boca ou por meio de um anjo. Lembro-me do profeta Daniel quando, o próprio anjo Gabriel, por ordem de Deus foi até ele e disse: "No princípio das tuas súplicas, saiu a ordem, e eu vim, para declará-la a ti, porque és muito amado." (Daniel, 9: 23). Quanto privilégio! Mas isso não é à toa, mas fruto da comunhão e fidelidade de Daniel a Deus. O que o cristão mais espera é achar graça diante de Deus - por meio do sangue de Jesus temos essa certeza.

Fruto da sua fidelidade era a sua submissão à vontade de Deus. Muitas vezes Ele nos convida ou chama para realizarmos sua obra; mas do alto do nosso comodismo, não queremos responder como Maria: "Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra." (Lucas, 1: 38) ou como fez o profeta Isaías: "Então ouvi a voz do Senhor, conclamando: 'Quem enviarei? Quem irá por nós?' E eu respondi: Eis-me aqui. Envia-me!" (Isaías, 6: 8). 
Maria era a mãe ideal; Maria é a mãe modelo; a despeito da sua humanidade, Deus viu nela a mãe apropriada para indicar os caminhos a serem trilhados pela criança e pelo adolescente Jesus, preparando-o para trilhar a via dolorosa que Ele teria que trilhar, mesmo que, como indica a Bíblia, ela própria não compreendesse bem a missão de Jesus. ("O pai e a mãe do menino admiraram-se das coisas que dele se diziam."; "Ele perguntou: 'Por que vocês estavam me procurando? Não sabiam que eu devia estar na casa de meu Pai?' Mas eles não compreenderam o que lhes dizia.Então foi com eles para Nazaré, e era-lhes obediente. Sua mãe, porém, guardava todas essas coisas em seu coração." Lucas, 2: 33 e 49 - 51).   

A maior comprovação de sua dedicação a Deus, de sua humildade, de se reconhecer como dependente de Deus e agraciada pela sua misericórdia, está na sua oração ou no seu cântico:

"Minha alma engrandece ao Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, pois atentou para a humildade da sua serva. De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Poderoso fez grandes coisas em meu favor; santo é o seu nome. A sua misericórdia estende-se aos que o temem, de geração em geração. Ele realizou poderosos feitos com seu braço; dispersou os que são soberbos no mais íntimo do coração. Derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos. Ajudou a seu servo Israel, lembrando-se da sua misericórdia para com Abraão e seus descendentes para sempre, como dissera aos nossos antepassados." (Lucas, 1: 46 - 55). 

De fato Maria é bem aventurada, porque foi escolhida por Deus para uma missão; missão de suma importância. Maria é bem aventurada porque Deus atentou para sua humildade e salvou-a, manifestando a sua misericórdia. Maria, como nós, necessitava do Salvador; Maria como nós necessitava da misericórdia divina e ela o reconhecia. Sejamos também humildes, reconhecendo nossa pequenês diante de Deus e, como fez Maria, coloquemo-nos à disposição, como servos, para também sermos usados pelo nosso Senhor e, como fez como mãe, "entregar" o Filho àqueles que mais necessitam. Que Deus nos abençoe e que saibamos reconhecer o real valor da mãe de Cristo e que a orção de Maria seja a nossa oração: "Sou serva do Senhor; que aconteça comigo conforme a tua palavra."

"Mas a todos os que O receberam, àqueles que crêem no Seu nome, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus - filhos não nascidos do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus." (João, 1: 12 e 13).